Por Giva Moreira
Lembro do momento como se fosse ontem. Um belo dia de minha infância, a caminho do colégio, comecei a ler. Saí lendo em voz alta os anúncios pintados nos muros e o que mais pintasse pela frente. Um momento épico de descoberta e muita alegria para mim. Chegando em casa contei, todo empolgado, para a minha mãe, e comecei a “devorar” os livros da escola, alguns gibis da Turma da Mônica. Os personagens de Maurício de Souza me incentivaram ainda mais para leitura. E como não gostar daquelas histórias envolventes e desenhos cativantes?
Minha pequena coleção.
Ainda fascinado com a turma da Mônica, comecei meus primeiros desenhos tentando reproduzir algumas artes dos gibis, e fui “melhorando” com a prática. Daí, criei um personagem estilo “Dick Tracy” e cheguei a fazer uma história dele nas folhas do meu caderno. Foi quando descobri que era muito mais legal criar meus próprios personagens do que fazer histórias com personagens que já existiam pro aí. Continuei praticando, comecei a fazer reproduções de fotografia até dos meus pais. Fiz desenhos do Megatron (Vilão dos Transformers, desenho animado da época) para os colegas, em pedaços de cartolina.
Foi quando, em visita à minha avó em Vitória da Conquista, vi pela primeira vez a estante repleta de quadrinhos do meu saudoso tio Nênha. Eu devia ter entre 8 e 9 anos. Lembro quando ele abriu a porta do quarto. Fiquei, assim como os meus primos, parado admirando aquela coleção como se fosse um baú de tesouros. E era. Turma da Mônica, Disney, heróis Marvel, DC e etc. Tinha de tudo ali. Ficamos olhando, naquela expectativa, enquanto ele pegava algumas edições para a gente folhear. Ele coordenava o momento, para a gente não “fazer bagunça”. Ironicamente, hoje faço o mesmo com os meus sobrinhos... (risos).
Outra experiência marcante foi com meu tio Milton, pois ele tinha uma revista dos Trapalhões, mas não era a versão infantil no tamanho formatinho, estou falando daquele gibizão, onde os trapas eram exatamente como na TV: adultos, engraçados e com histórias politicamente incorretas... Lembro da minha curiosidade naquelas revistas, suas cores, histórias que iam da inocência ao fantástico, do lúdico à ficção. Um momento marcante na minha infância. ...Há, cara...bons tempos.
E em outra visita à família, novamente em Vitória da Conquista, uma tia me acompanhou pela primeira vez até uma banca de jornal e lá, pediu que eu escolhesse minha primeira revista de super-herói. Escolhi então uma edição do Homem-Aranha, com uma história no mundo selvagem.
Acredito mesmo que, esses quadrinhos influenciaram positivamente meu desenvolvimento de leitura de mundo e interpretação de textos, por causa daquelas histórias incríveis e roteiros cheios de reviravoltas. Inconscientemente, as HQs contribuíram também na minha formação como ser humano. Quando se é criança você assimila as coisas de maneira mais rápida, mas é também aí que o caráter e personalidade começam a ser construídos. E nesse caso, bons quadrinhos, livros, animações ajudam bastante.
E você pode perguntar: Como assim?
Que tal a luta contra o preconceito racial dos X-Men, a lição sobre poder e responsabilidade do Homem-Aranha, a importância do trabalho em equipe dos Vingadores, a confiança na justiça e a luta contra as adversidades do cego Demolidor (sim, cara, um herói que é advogado e cego, praticamente ironiza a justiça.), a força, esperança e honestidade que o Super-homem representa, a infinita luta contra o crime do Batman, a coragem e determinação de Conan, o bárbaro...
Várias influências positivas para qualquer criança ou adolescente. Na verdade, para qualquer pessoa. Hoje é fácil de entender que essas mensagens nas HQs podem, sim, contribuir (e muito), na formação educativa de vários públicos.
Até nos desenhos animados, que eu assistia logo depois do colégio, como em He-Man, por exemplo, sempre haviam mensagens bacanas lançadas ao final de cada episódio. Justiça, verdade, honra e lealdade. (Thundercats, hoooo!!!) Que falta sinto disso nas produções de hoje em dia. E falando nisso, é triste de ver a “idiotização” presente em algumas produções atuais. Mas isso, é assunto para outra história...
Á esquerda Os Thudercats (1985) e à direita versão do Cartoon Network de 2019
Em 1988, conheci o Valdir, um vizinho que tinha várias edições de A Espada Selvagem de Conan, da editora abril, além dos exemplares de Aventura e ficção, guardadas com todo cuidado numa caixa de papelão. Aquelas histórias, com argumentos muito bem escritos, artes incríveis em preto e branco e em formato grande, me levaram de volta ao colecionismo.
Então, chegou 1989, que definitivamente, foi o ano do morcego. A febre da “Bat-Mania”, causada pelo filme do Tim Burton e Michael Keaton, foi demais.
No início dos anos 90, no Colégio Estadual de Ipiaú (Apelidado GEI), conheci a turma que também curtia HQs. Petrônio, Itamar, Aiala, e José Fagner. Caramba! Conversávamos sobre quadrinhos, filmes, música e etc. Os eternos debates de quem era melhor, Marvel ou DC? (viu, isso é treta velha. - risos). Criávamos e produzíamos nossas próprias revistas, histórias e heróis, com direito a crossovers e tudo mais. O escambo de quadrinhos era forte e sempre tinha alguém, que conhecia quem tinha uma edição para negociar. E lá íamos nós, afinal, a grana era curta. Não dava para comprar todas as novidades na banca. Era punk colecionar... (Risos).
Revistas autorais com personagens criados na época.
Chegamos ao ano 2000, e digamos que, não foi um período bom para os colecionadores. Foi nessa época que a Espada Selvagem de Conan foi cancelada, na edição 205. As equipes criativas da Marvel e DC não estavam nos seus melhores dias. Tentei acompanhar material de outras editoras, mas parei novamente. Foi uma fase horrível das HQs.
Daí, em 2007, foi lançada, no Brasil, a série “Guerra Civil” da Marvel Comics, pela editora Panini, com roteiro do Mark Millar e arte do Steve McNiven. Essa história e os lançamentos de encadernados em capa dura das HQs clássicas, reacenderam de vez meu interesse em voltar a colecionar. O site Omelete e os canais no YouTube, como Central HQS do Fernando e Pipoca & Nanquim, foram também responsáveis por meu retorno ao garimpo por boas histórias. E até hoje, aos poucos, vou construindo meu pequeno acervo.
Aprendi que a paciência é indispensável para quem coleciona e que, qualidade é mais importante que quantidade. Fica a dica para quem pretende começar sua coleção.
Carpe diem.
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* Todas as capas de revistas foram usadas com finalidade de divulgação. Os direitos são de suas respectivas marcas.
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